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Ovinocultura: criação e manejo de ovinos de corte


O crescimento da ovinocultura de corte tem sido impulsionado pelo elevado potencial do mercado consumidor e pela crescente aceitação da carne de cordeiro. O Brasil, porém, não dispõe de produção suficiente para atender a própria demanda, aumentando, assim, a importação de ovinos vivos, carcaças e carne congelada ou refrigerada. Com enorme potencial de produção pecuária, o país pode mudar essa realidade, tendo como objetivo a criação de animais a serem abatidos em idade precoce, com carcaças de alta qualidade e a custos compensadores. Para produzir cordeiros mais pesados em menor tempo, deve-se adotar como principais cuidados a escolha das raças, os cruzamentos e o sistema de criação adequados à realidade e ao clima da propriedade associados com a utilização de técnicas reprodutivas e conhecimentos de nutrição e prevenção de doenças. Diante disso, esta cartilha pretende guiar o produtor no manejo da criação visando tornar o produto competitivo e lucrativo.


1. Conheça o mercado de carne de ovinos

Com o consumo em açougues, grandes restaurantes e churrascarias, a carne de cordeiro,

como produto nobre, tem o seu mercado estabelecido em grandes centros, garantindo um valor agregado que sustenta toda a cadeia da produção. Esse cenário assume destaque na região Sudeste, que realmente concentra o mercado consumidor.

Já no Nordeste e no Norte, a carne ovina é vista como mercado de subsistência, constituindo a principal fonte de proteína animal, por ser de fácil criação e adaptação ao clima dessas regiões.

A produção é insuficiente para atender à demanda interna no Brasil e resulta em significativa importação de produtos de ovinos e nenhuma exportação. Para os produtores brasileiros, essa situação demonstra o grande mercado em potencial que pode ser trabalhado e abastecido.


2. Conheça os produtos derivados da carne ovina


Ainda é pouco explorado o aproveitamento tecnológico da carne de ovinos. E, quando realizado, na maioria das vezes, ocorre de forma artesanal. Nesse sentido, a elaboração de produtos processados ou embutidos constitui uma alternativa viável, pois permite o maior aproveitamento da carne desses animais, aumentando, desse modo, a rentabilidade do processo produtivo. Além disso, o processamento reduz as características indesejáveis da carne de animais velhos ou de descarte, como menor maciez, alto teor de gordura, odor e sabor intensos.


2. Conheça as raças mais comuns especializadas em produção de carne

A grande variedade de clima existente no Brasil exige a escolha da raça de acordo com o clima e a região em que se deseja produzir, procurando aquela que se adapta melhor às condições climáticas. Deve-se considerar também a disponibilidade de animais da raça desejada na região e do sistema de produção a ser definido, pois isso garante um investimento mais bem aproveitado e maior chance de retorno financeiro.


Dorper

Dorper

1- Bem adaptado e resistente à variada condição climática existente no Brasil;

2- Exigências nutricionais não muito altas, quando comparados com outros animais produtores de carne;

3- Cordeiros com idade de 3 a 4 meses podem chegar a 36 kg;

4- Pernil muito desenvolvido;

5- Podem atingir ganhos médios diários de 160 a 200 g/dia;

6- Número de cordeiros nascidos por ovelha parida varia de 1,1 a 1,7;

7- Boa habilidade materna;

8- Apresenta pouca ou nenhuma época ideal de reprodução.


Suffolk

Suffolk

1- Grande capacidade de adaptação a diferentes climas;

2- Necessita de alimentação de boa qualidade e em quantidade;

3- Apresenta facilidade de parto e muitos cordeiros por ovelha;

4- Rendimento de carcaça de 45 - 48%;

5- Cordeiros com grandes ganhos de peso variando de 250 até 600 gramas ao dia; Boa 6- habilidade materna, amamentando bem os filhotes de partos duplos;

7- Produz carcaças magras e de qualidade.


Hampshire Down

Hampshire Down

1- Boa capacidade de adaptação aos diferentes meios e regimes de criação;

2- Os cordeiros bem alimentados atingem 35 kg de peso vivo aos 3 ou 4 meses;

3- Rendimentos de carcaça de 45 a 50%;

4- A fêmea geralmente tem apenas uma cria, sendo raros os partos duplos.



Texel

Texel

1- Rústica, produzindo bem no sistema extensivo e semi-intensivo;

2- Média de 1,6 a 2 cordeiros nascidos por ovelha parida;

3- Produz uma ótima carcaça, com pouca gordura;

4- Aos 70 dias de idade, machos bem formados podem atingir 27 kg e as fêmeas 23 kg.


Morada Nova

Morada Nova

1- Raça nativa do Nordeste Brasileiro;

2- Bastante rústica, adapta-se em todas as regiões, até mesmo nas mais áridas;

3- Produz carne e pele de grande aceitabilidade pela indústria;

4- Os animais são pequenos e pouco pesados;

5- Ovelhas que reproduzem com facilidade;

6- Sem época ideal de reprodução.


Santa Inês

Santa Inês

1- Bastante rústica, adapta-se em todas as regiões, até mesmo nas mais áridas;

2- Grande porte;

3- Fêmeas prolíferas e boas criadeiras, com frequentes partos duplos e excelente capacidade leiteira;

4- Adapta-se bem a ambientes com bons recursos forrageiros;

5- pouca ou nenhuma época ideal de reprodução.


3. Conheça os cruzamentos comuns para a produção de carne

O cruzamento significa o acasalamento de animais que possuem descendentes geneticamente diferentes com a finalidade de produzir outros que se adaptem melhor a determinadas circunstâncias.

3.1.  Conheça o cruzamento industrial

É o cruzamento entre animais de duas raças diferentes resultando em um cordeiro mestiço, também chamado de F1. Normalmente, usa-se um reprodutor especializado em produção de carne com uma fêmea resistente às condições ambientais mais extremas. O cruzamento industrial permite:

1- Ter animais com boa produção de carne e, ao mesmo tempo, resistentes;

2- Ter menores gastos na aquisição, a depender da raça escolhida;

3- Escolher raças com melhores características maternas.


3.2.  Conheça o cruzamento triplo ou tricross


Nos cruzamentos triplos, as fêmeas meio sangue (F1), resultantes do cruzamento industrial, são aproveitadas como matrizes, sendo cobertas por machos puros.


Por exemplo, faz-se o cruzamento entre fêmeas adaptadas à região e rústicas com carneiros de aptidão para leite, gerando, assim, filhas mestiças com rusticidade, boa produção leiteira e grande habilidade materna. Essas filhas mestiças serão cruzadas com carneiros especializados em produção de carne, gerando cordeiros mestiços provenientes das três raças.


Os benefícios dos animais provenientes desse cruzamento são:

• Alta velocidade de ganho de peso;

• Peso elevado à desmama resultante da produção leiteira da mãe ser alta;

• Boa adaptação transmitida pela genética;

• Cordeiros precoces.




3.3.  Conheça o cruzamento absorvente

O cruzamento absorvente tem a finalidade de substituir uma raça ou “grau de sangue” por outra, buscando ampliar o rebanho de animais puros de uma determinada raça em situações nas quais a aquisição pode ser difícil e/ou cara.


Com isso, um ovinocultor pode, ao longo do tempo, formar um rebanho inteiro de uma determinada raça, a partir de um grupo de animais mestiços, daí surgindo animais classificados tecnicamente como puros por cruza.


O cruzamento absorvente é feito a partir de um grupo de uma raça escolhida ou animais sem raça definida com reprodutores de raça especializada em produção de carne. Após a quinta geração do cruzamento, os cordeiros serão considerados puros por cruzamento.




4. Sistemas de Produção

Para uma produção de carne de qualidade deve-se estar atento à alimentação adequada do animal, bem como ao controle e manejo das pastagens, para que possam ser utilizadas da melhor forma possível.

4.1.  Conheça o sistema extensivo tradicional

Nesse sistema, os ovinos são criados soltos no pasto sem necessidade de instalações grandiosas e uso de tecnologias de produção.

Para isso, são utilizados animais de menor exigência nutricional.

As principais desvantagens desse sistema são:

• Baixa produtividade, não recomendando-se, assim, para produção comercial de ovinos;

• Ocupar grandes extensões de terra;

• Possuir risco de predação.




4.2.  Conheça o sistema extensivo com divisão de piquetes

Consiste em um sistema inteiramente a pasto (extensivo), no qual se divide a área de pastagens em piquetes com a rotação dos animais por um tempo pré-definido nesses piquetes.

As principais vantagens desse sistema são:

• Fornecer descanso para a pastagem crescer, ou seja, enquanto os animais estão em um piquete, o outro está vazio para se recuperar;

• Evitar que os animais comam os brotos e destruam a pastagem;

• Maior controle de produção das pastagens;

• Maior controle dos animais;

• Menor contaminação por vermes.



4.3. Conheça o sistema de produção semi-intensivo

No sistema semi-intensivo, os ovinos são soltos pela manhã, de preferência após as 9 horas da manhã (o que diminui a contaminação de larvas de vermes), e presos novamente na parte da tarde para que passem a noite confinados.


As principais vantagens do sistema-intensivo são:

• Melhorar os índices produtivos;

• Melhorar o controle zootécnico e sanitário do rebanho;

• Diminuir a contaminação por vermes;

• Possuir menor risco de predação.


A principal desvantagem desse sistema está relacionada à estrutura, pois necessita de construção de abrigos com bebedouros e comedouros, além de cocho e cercas na divisão dos piquetes.


4.4. Conheça o sistema de produção intensivo

No sistema intensivo, os ovinos ficam confinados, ou seja, permanecem em construções com área restrita, em que a água e os alimentos necessários são fornecidos nos cochos.


As principais vantagens do sistema intensivo são:

• Maior produtividade por animal;

• Maior produção por área, pelo uso de tecnologias para a produção de alimento, conseguindo-se, assim, colocar um maior número de animais em uma menor área;

• Melhor acompanhamento dos animais, garantindo a prevenção de doenças ou corrigi-las rapidamente;


5. Tipos de instalações necessárias

1. Identifique os principais objetivos das instalações Independentemente do sistema de produção adotado, as instalações necessitam:

• Abrigar adequadamente os animais, fornecendo-lhes conforto e segurança;

• Ser práticas, funcionais e de fácil limpeza;

• Ser resistentes e duradouras;

• Conter e manter adequadamente os animais;

• Ser arejadas, mas protegidas de ventos e umidade;

• Dispor de proteção contra as variações de clima;

• Ser espaçosas e racionalmente divididas;

• Estar em local de fácil acesso, com facilidade de água;

• Ser de custo adequado e de baixa manutenção.


Identifique as instalações necessárias a produção

Aprisco

O aprisco é um galpão construído para abrigar os animais à noite ou confiná-los durante o dia. As principais características que o aprisco deve ter são:

• Localização em terreno bem drenado;

• Apresentar correntes de ar adequadas, sem ventilação excessiva ou deficiente;

• Ser construído, preferencialmente, no sentido Leste-Oeste para evitar a incidência da radiação solar diretamente nos animais;

• Ter piso de terra batida (apenas para pernoite), ripado de madeira ou coberto com cama de serragem, feno ou casca de arroz; e

• Contar com comedouros protegidos, para que os animais não entrem, evitando que defequem e urinem na ração.




Curral de Manejo

Local onde é feita a contenção dos animais para vermifugações, vacinações, pesagem, casqueamento, entre outras atividades.

Geralmente, é construído em conjunto com o aprisco.

Recomenda-se 1 m2 de área disponível para cada animal, sendo que o piso pode ser de terra batida ou de cimento.



Para facilitar o manejo dos animais, devem ser construídas no curral de manejo as seguintes instalações:


Tronco ou brete de contenção

O tronco de contenção deve permitir a passagem de um único animal de cada vez, sem que este consiga virar.

Para isso, deve ser feito um corredor de forma trapezoidal com tábuas unidas e sem frestas. O tronco deve ter as seguintes dimensões:

• 30 centímetros na base inferior;

• 50 centímetros na base superior;

• 80 centímetros de altura.




Pedilúvio

O pedilúvio tem a finalidade de fazer a desinfecção dos cascos dos animais toda vez que entrarem ou saírem do aprisco. O pedilúvio deve ser localizado na entrada dos currais, de preferência no piso do brete e com uma profundidade de 3 a 5 centímetros. Nessa estrutura são colocadas soluções, como o sulfato de zinco, em que as patas dos animais têm de ficar submersas por alguns minutos para combater os problemas de casco. É importante que haja uma saída de esgoto, a fim de assegurar o escoamento do líquido e a limpeza após o uso.




Abrigo Noturno


Construção simples, podendo ser cercada somente de tela e madeira. O abrigo deve ser construído na área central das pastagens para comportar os animais somente à noite, evitando problemas de predação.


Confinamento



Local onde os cordeiros serão confinados após a desmama, até a comercialização para abate, sendo geralmente uma baia grande do aprisco.

• Qualquer galpão pode ser adaptado para servir como confinamento;

• O piso pode ser de terra batida, cimentado ou ripado;

• Deve-se utilizar cama (feno, palha de arroz, serragem/maravalha);

• Área por volta de 0,60 metros quadrados por cordeiro de até 30 kg de peso vivo, aumentando de acordo com a situação;

• Comedouros devem ser protegidos, para que os animais não entrem, evitando que defequem e urinem na ração.


Fonte: Ovinocultura: criação e manejo de ovinos de corte - SENAR

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